A cada segundo, a cada palavra lida, os Jogos Olímpicos de Tóquio estão mais próximos. Desde 24 de março de 2020 não havia tão poucos minutos que separassem eu, você, o mundo da cerimônia de abertura das Olimpíadas no Japão. Não importa se você está lendo nesta terça, dia 23, na quarta, 24, ou qualquer outro dia deste terceiro mês de 2021, é fato que a contagem regressiva daqueles luxuosos relógios da Omega espalhados por pontos turísticos da capital japonesa nunca estiveram tão perto do zero.
Desculpem-me se, de repente, logo após publicar este texto um raio cair no relógio da torre da sua cidade e tudo voltar para o futuro, marcando 1227 dias para os Jogos Olímpicos de... Paris 2024. Não desejo a ninguém viver num Dia da Marmota Olímpica. A noite de 23 de março de 2020, com a notícia praticamente confirmada por algumas fontes, e a manhã do dia 24, com o anúncio do adiamento, já foram suficientemente agitadas e repletas de reflexões quanto ao futuro dos Jogos. E tudo isso no meio e por causa de uma pandemia que não para de matar pessoas no mundo todo e faz refletir no futuro da Humanidade.
Hoje, um ano depois, a esgrimista campeã mundial Nathalie Moellhausen passou do praticamente com a vaga garantida para uma das classificadas para os Jogos. Felipe Wu deixou de ser o atirador que não defenderia a medalha da Olimpíada passada para novamente figurar entre os atletas com chance de surpreender em Tóquio. Há 365 dias a seleção masculina de handebol vivia um calvário, agora celebra o lugar assegurado no torneio da capital japonesa.
Já são 197 atletas brasileiros garantidos. Não todos assegurados nominalmente, por isso mais de 197 corações batendo no ritmo dos milésimos de segundo do ponteiro que marca o início dos Jogos. E podem chegar a 250, 260, 270 até 23 de julho. Haja sangue a ser bombeado para essas pernas e braços que podem levar o Brasil ao melhor desempenho da história das Olimpíadas, superando as 19 medalhas conquistadas no Rio em 2016. Os resultados esportivos em 2019 mostravam que esse sonho era real. Os resultados de controle da pandemia no Brasil deixam os atletas, técnicos, dirigentes e torcedores sonharem em 2021?
Os anúncios do COI, as confirmações do Governo do Japão, porém, não deixam que as Olimpíadas parem de ser automaticamente ligadas a uma pergunta diária: "Vão acontecer?". Enquanto os corpos dos atletas deviam estar cada vez mais bem preparados para a disputa que pode ser a da suas vidas, a mente segue duvidando, questionando, regurgitando a questão: "Os Jogos vão acontecer?".
Demorei um ano para instalar uma rede na varanda de casa. Um ano de pandemia e só agora percebi as vantagens de ser abraçado por esses fios que me balançam enquanto penso como serão as Olimpíadas de Tóquio. Vejo o pôr do sol e lembro que naqueles primeiros dias de outono de 2020 ele estava ali, na mesma posição de hoje. Sol nascente lá, enquanto tomam-se as decisões sobre a presença de público: apenas residentes no Japão. Poente, aqui, enquanto não conseguimos saber se vamos ser todos vacinados até o próximo verão chegar no Hemisfério Sul.
Os Jogos vão acontecer. Só não sabemos como. Uma máxima repetida nas últimas semanas que deixa a todos ansiosos, por verem a luz no fim do túnel mas não saber a extensão que ainda terão que percorrer até a saída. Na verdade, túnel de entrada do Estádio Olímpico de Tóquio, onde a chama olímpica desfilará, desta vez, com menos atletas e menos torcedores ao seu redor. O fogo olímpico, aliás, volta a se mover a partir desta quinta-feira, dia 25. Nunca vi uma luz atrair tantos olhares como quando conduzi a tocha em 2016. Desta vez, os olhos estarão grudados na TV. E assim serão os Jogos também. Sejam como eles forem, serão com menos testemunhas oculares da História.
Nunca estivemos tão perto dos Jogos Olímpicos de Tóquio. E, ao mesmo tempo, tão longe.