A pouco mais de quatro meses do primeiro turno das eleições, os principais pré-candidatos à Presidência da República concentram suas estratégias em como superar pontos de resistência e atrair ao menos uma parcela do eleitorado que hoje os rechaça. Na “eleição da rejeição”, a prioridade do presidente Jair Bolsonaro é diminuir o desgaste entre as mulheres, a população de baixa renda e os jovens. Já Lula tem entre seus “calcanhares de aquiles” os escândalos de corrupção dos governos petistas, a relutância do empresariado e a desconfiança do eleitorado conservador.
No caso de Bolsonaro, os estrategistas da campanha à reeleição pregam que o presidente precisa suavizar a imagem para quebrar a resistência entre as brasileiras. O antídoto previsto é mostrá-lo em momentos de leveza, com a família, por exemplo. Na terça-feira, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, se filiou ao PL para participar das propagandas do partido na TV. Ontem, ela o acompanhou em viagem a Manaus.
Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira aponta Lula com 48% de intenções de voto e Bolsonaro com 27%. Segundo o levantamento, o petista venceria no primeiro turno. A rejeição preocupa as duas campanhas, sobretudo a de Bolsonaro. Segundo o instituto, 54% dizem não votar de jeito nenhum no atual titular do Planalto.
Entre mulheres, esse índice sobe para 57%, e entre jovens de 16 a 24 anos alcança 63%. Outro ponto de atenção passa pela população de baixa renda, em que Lula atinge 57% das intenções de votos contra 20% de Bolsonaro. Para conquistar esse público, o presidente pretende ampliar a divulgação de ações de sua gestão, como o pagamento do Auxílio Emergencial de R$ 600 e o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.
A rejeição entre jovens amplia a fragilidade de Bolsonaro. Nas redes sociais do presidente, a estratégia tem sido adotar o deboche contra adversários, explorando memes, num tom menos oficial e mais leve nas postagens. Já focado na estratégia para tentar reverter os índices desfavoráveis, na quinta-feira Bolsonaro gravou uma propaganda do PL em que ele não fala, apenas ouve eleitores sobre suas expectativas. Ao tratar sobre políticas econômicas, Bolsonaro vai insistir no discurso de que viveu um mandato atípico, afetado pelos reflexos da pandemia e da guerra da Ucrânia. A crise sanitária e o conflito serão usados na tentativa de explicar a crise que afeta o país.
Já a campanha do ex-presidente Lula pretende colocar a economia como tema prioritário e, assim, tentar tirar o foco de escândalos de corrupção dos governos petistas, que serão explorados por adversários. O ex-presidente deverá levar para o debate uma comparação entre o desempenho da economia em seus dois mandatos e o baixo crescimento e a volta da inflação registradas na gestão Bolsonaro. Atento ao voto religioso, Lula também deve evitar pautas sensíveis ao eleitorado conservador. A recente declaração do ex-presidente a favor da legalização do aborto não deve se repetir, por exemplo. O petista foi aconselhado a dizer que não cabe ao presidente regulamentar temas como esse.
Um fator de preocupação de Lula é o empresariado, público entre o qual enfrenta forte rejeição. Nesse segmento, Bolsonaro vence, segundo o Datafolha, por 56% a 23%. O petista quer um encontro com o presidente da Fiesp, Josué Gomes, para discutir uma agenda com empresários, conforme o blog da jornalista Andréia Sadi, no G1. O ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT), um dos coordenadores da campanha, esteve na semana passada com Josué, filho de José Alencar, que foi vice de Lula. O entorno do petista também defende que ele rechace a possibilidade de levar a ex-presidente Dilma Roussef para seu eventual governo. Ela deixou o Planalto, alvo de um impeachment, com 70% de desaprovação.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, à frente nas pesquisas, tentam reverter focos específicos de resistência do eleitorado, os demais pré-candidatos ao Palácio do Planalto têm como principais vulnerabilidades o fato de serem desconhecidos de boa parte da população. Além disso, por vezes, suas candidaturas são vistas como frágeis para romper a polarização entre o petista e o atual chefe do Executivo.
Terceiro colocado nas pesquisas, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tenta minimizar dois pontos fracos: o temperamento explosivo e a dificuldade de atrair outros partidos de esquerda, já que a maioria aderiu à campanha de Lula. O marqueteiro da campanha, João Santana, tenta transformar as reações agressivas de Ciro em reflexo de uma suposta indignação do candidato com a situação do país. Ele também vem apostando em conteúdos na internet para cativar o público jovem, que, pelas pesquisas, está mais próximo de Lula. Um exemplo é a série de transmissões “Ciro Games”, com linguagem adaptada para as redes sociais.
Também preocupa o entorno de Ciro a investida de petistas sobre a bancada e candidatos do PDT, que tem aumentado nas últimas semanas. Os petistas costumam argumentar que a candidatura do ex-ministro divide o campo da esquerda e abre caminho para Bolsonaro ser eleito. Dois pedetistas que vão se lançar aos governos do Maranhão e do Rio, senador Weverton Rocha e o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, já se mostraram simpáticos a ter o apoio de Lula.
Já a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o deputado Luciano Bivar (União-PE) têm como principal desafio se tornarem conhecidos nacionalmente e convencerem os seus correligionários de que têm candidaturas sólidas. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira, apenas 29% dos eleitores conhecem Tebet; e 26%, Bivar. Esse índice é de 99% em relação a Lula e 98% sobre Bolsonaro, enquanto Ciro é conhecido por 91% da população brasileira.
Tebet vai estrelar as inserções do MDB na televisão, que vão ao ar na segunda metade de junho. Segundo o presidente do partido, Baleia Rossi, a ideia é fazer uma “conexão emocional” dela com o eleitor para, depois, tentar captar o seu voto por meio de propostas. Em outro desafio, Tebet precisa convencer os seus colegas do MDB — e os potenciais aliados PSDB e Cidadania — de que seu projeto eleitoral tem musculatura. Ela apareceu com 2% no Datafolha.
Na percepção de aliados de Tebet, ela não deve enfrentar problemas para ter a candidatura homologada na convenção que ocorrerá entre julho e agosto — temor que havia há alguns meses. Apoiá-la no evento partidário, no entanto, é diferente de se engajar em sua campanha.
Presidente do União Brasil, que tem o maior caixa das eleições deste ano, com R$ 770 milhões, Bivar, por sua vez, corre contra o tempo para se tornar conhecido. Na próxima terça-feira, ele vai lançar formalmente a pré-candidatura. Para começar a pontuar nas pesquisas, a campanha de Bivar defende que ele se apresente como uma alternativa que pregue a união do país e apresente propostas como forma de rechaçar a guerra entre Lula e Bolsonaro.
Por Jussara Soares, Eduardo Gonçalves e Ivan Martínez-Vargas — Brasília e São Paulo.