A chegada do Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua ao Benedito Bentes abriu as portas da esperança para dezenas de homens e mulheres que, até poucos anos atrás, eram invisíveis ao poder público. Inaugurado nesta quarta-feira (1º), o Centro POP III já se transformou em fábrica de cidadania e em uma casa de dignidade, como assim classificou o prefeito JHC.
Por dia, uma média de 80 pessoas em situação de rua da localidade tem o direito a refeições balanceadas, assistência médica, odontológica, psicológica e social. A necessidade era tão grande por um espaço de acolhimento no bairro que a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) preparou o ambiente e começou a atender no local antes mesmo da entrega ser oficializada.
Saiba mais - Prefeito JHC inaugura Centro Pop no Biu e garante assistência à população em situação de rua
Desde dezembro, Josenildo da Silva, de 28 anos, vai até o prédio onde está funcionando o Centro POP III para ser assistido. Ele estava tão emocionado com a inauguração que fez questão de parabenizar e cumprimentar o prefeito pessoalmente. O sentimento era de pura gratidão pela oportunidade de ter um alento diante de uma realidade tão cruel.
“É gratificante contar com este serviço. Antigamente não tínhamos onde se alimentar, tomar banho, fazer as necessidades e, para nós, é importante poder usar o espaço, que tem vários benefícios, inclusive dando encaminhamento para outros serviços da prefeitura e tirando os nossos documentos”, destacou.
Ele conta que está nesta situação há cerca de 10 anos devido às drogas. Como não teve outro meio para seguir em frente na vida, optou por buscar refúgio na rua, logo após ser deixado de lado pela família, já desiludida pelas inúmeras tentativas de resgatá-lo do vício maligno. Josenildo tem uma filha de 4 anos, que vive com a mãe, em Arapiraca. “O Centro POP já me trouxe vários benefícios. Um deles foi o encaminhamento para uma comunidade terapêutica”, revela.
Tânia da Silva Melo tem 25 anos e há uma década se viu obrigada a viver nas ruas. Quando engravidou do primeiro dos seus três filhos foi abandonada pelo marido e pela família. Sem ter onde ficar e o que comer, não teve outra opção a não ser tentar seguir a vida sem residência fixa. Ela chora ao lembrar dos perrengues que tem passado no cotidiano em busca de um teto e de alimento.
“Eu não tenho onde comer e nem dormir. Por isso, estou achando ótimo ter este serviço aqui no Benedito Bentes. Recebo minha comida de manhã e à tarde e pego produtos de higiene pessoal. O meu sonho é ter um local para morar, nem que seja um barraco, mas que seja meu, para que eu possa me abrigar com os meus filhos”, relata. Ela diz que, ao longo desse tempo, pede ajuda a conhecidos para deixar as crianças, de 10 anos, 4 anos e 6 meses, em um espaço para passar a noite, enquanto ela e o companheiro perambulam pelas ruas.
O catador de recicláveis José Barbosa da Silva Neto, de 60 anos, é natural de Maribondo e nem consegue precisar o tempo que está em situação de rua. Sem parentes próximos, de quem demonstra ter bastante mágoa, ele diz que conta com Deus e, agora, com a ajuda da Prefeitura de Maceió, para sobreviver.
“Fiquei sabendo deste local por indicação de um amigo, Cheguei aqui e me cadastrei. ‘Tô’ achando muito bom e sei que, aqui, posso contar com a ajuda de todos”, afirmou.
Já Cícero Francisco da Silva, de 56 anos, frisa que não teve, até agora, como receber benefícios sociais do governo federal, com o Bolsa Família e, por causa disso, anda com uma carrocinha em busca de materiais para reciclagem. O que consegue vender, tira para comprar comida. Sem casa, ele também vive nas ruas.
“Trabalhei em uma empresa durante mais de vinte anos, mas fui colocado pra fora após ficar doente. Hoje vivo nas ruas desde o início do anos 2000. Sou de Pernambuco e minha família é toda de São Paulo. Não tenho mais contato. Agora, com o Centro POP tenho comida boa todo dia, já cortei o cabelo e sou bem atendido por pessoas respeitosas”, ressaltou.
O Centro POP do Benedito Bentes funciona de segunda a sexta-feira, com atendimentos encaminhamentos necessários para que os usuários tenham condições de reconduzir as suas vidas e sair da condição de rua. São ofertadas duas refeições diárias, inclusive aos sábados, domingos e feriados. O próximo passo é deixar o funcionamento do local todos os dias.
O espaço conta com equipes de assistentes sociais, psicólogos, de saúde, educadores sociais e administrativos. Quando chega, o usuário tem encaminhamento para saúde, odontologia, auxílio-viagem, auxílio-aluguel (caso seja necessário), auxílio para retirada de documentos, indicação para empregos, cursos profissionalizantes e participação em rodas de conversas.
As pessoas em situação de rua são captadas por uma rede proteção. A diretora de Proteção Social e Especial da Semas, Tatiana Bóia, destaca que esta população ainda é identificada na abordagem social. Atualmente, são 550 pessoas nesta condição que são atendidas pela política municipal de atenção à população de rua.
“É uma política pública que visa ressignificar a vida dessas pessoas que têm um passado de vida complicado, difícil. Tudo o que for necessário, inclusive experiências exitosas de outros estados, estamos trazendo, para que seja um sucesso. Estamos muito felizes com a implantação deste serviço em uma comunidade que carecia do espaço há muito tempo, mas que foi negligenciada pelas gestões anteriores”, analisou Tatiana Bóia.