Cícero Santana - O que passou, passou, agora o objetivo principal deste primeiro jornal deste bairro denominado Pontal para Todos, é resgatar a dignidade da população pontalense, em todos os segmentos e a nossa cultura popular, é uma delas. É preciso que se entenda, que uma comunidade como a nossa repleta de boas histórias de pessoas e de natureza, deixe sucumbir o que uma comunidade de periferia tem de mais precioso. A dignidade e a cultura popular, as Baianas do Pontal, por exemplo que hoje é um retrato do abandono dessa e de outra culturas populares do bairro, cito por exemplo o Pastoril e o Coco de Roda, os dois últimos ninguém mais fala.
Hoje, lamentavelmente só temos como representação cultural do bairro, única "Brincadeira" como dizia o Mestre Zau, um dos últimos pioneiros do Fandango.
Baianas Sobreviventes
Essa dança cultural popular originária da Bahia e que se expandiu por vários estados no País. Umas das que estão resistindo ao tempo são as Baianas, do município de Coruripe, através do apoio que o grupo vem recebendo da prefeitura local.
Aqui três fatores estão sendo fundamentais pelo provável desaparecimento de nossa cultura. Doença, Morte e a rejeição das jovens pontalenses em dar continuidade a esta cultura popular.
Lucy Juazeiro
Procuramos ouvir essas guerreiras que ainda resiste ao tempo. Carioca, do Beco da Moeda, na Lapa e radicada pontalense, Lucy Juazeiro, professora, chegou no Pontal nos idos dos anos 60, para lecionar no então Grupo Rural Governador Silvestre de Góis Monteiro, com seu espírito voltado para a cultura, se transformou em uma das artesãs do bairro, foi então que lhe surgiu a ideia de criar um grupo cultura, As Baianas do Pontal, grupo formado por 12 jovens da época.
Hoje resistem ao tempo apenas cinco, todas sem as mínimas condições de locomoção. Lucy Juazeiro a líder do grupo, conta com saudade os momentos felizes do grupo.
"Eram muito boas nossas apresentações, mas infelizmente estou vendo essa cultura acabar. Algumas morreram outras estão nessa situação como a minha, impedindo de fazer movimentos. Embora a mente queira, as pernas não ajudam, e é assim que estamos vendo acabar nossa cultura, já que as jovens não querem dar continuidade a essa cultura folclórica" lamentou Lucy, que passa a maior parte do dia em sua loja de artesanato, filé, que fica na saída da comunidade.
Maria do Reginé
Chegamos na residência de Maria José dos Santos, mais conhecida como Maria do Rejiné, beirando os 80 anos, com várias enfermidades no corpo e sem as mínimas - condições para entrevista o que fizemos com a filha Ana Alves dos Santos, que cuida da mãe.
Dona Maria era na verdade a compositora do grupo, (com uma belíssima voz- Destacou Lucy)
"Ela está debilitada, levou uma queda. A gente só lamenta que as baianas do Pontal estão desaparecendo. Eu toparia participar de um novo grupo, para que as baianas não acabace de uma vez. Acho bonito também o Fandango" disse.
Nicinha
Aos 86 anos, Elenice Gomes Bonfim, era a atual mestra em substituição a Maria do Reginé, ela lembra dos bons momentos do grupo quando de suas apresentações em Maceió.
"Ah!! Bola, era muito boa nossas apresentações, éramos aplaudidas e tudo a gente fazia era com amor, mas como você ver as "Baianas do Pontal", estão morrendo e outras estão doentes, sendo a artrose a doença mais comum, que impede o movimento das pernas. Em casa, me movimento com a bengala e para sair só de cadeira de rodas é preciso a construção de u projeto que possibilite recuperar essa cultura que são as Baianas do Pontal. Na cadeira de Rodas, eu poderia muito bem comandar a brincadeira, mas para que isso aconteça, precisamos de apoio das autoridades e isso nós não temos" lamentou Nicinha.
Zeza
Esta, a exemplo da Dico, é a mais durinha do grupo e não aparenta os anos que tem. Ela, Maria José dos Santos, a exemplo das demais, sente saudade das apresentações e ela recorda a última apresentação durante a 1ª Flipontal, de Carlito Lima, no jardim do morador Caio Porto.
"Era a última apresentação e a gente não sabia. Nessa apresentação não contávamos mais com a Maria do Reginé e Nete, hoje beirando os 90. É muito triste a gente ver uma cultura popular tão importante para o bairro. Mesmo resumida por conta da idade, mas ainda tenho fôlego para continuar, o problema é que nos falta apoio e a Lucy que era a grande incentivadora também está doente e sem as mínimas possibilidades para dança. A gente procura as mais jovens e elas não querem manter acesa esta chama de esperança de não ver as nossas baianas acabarem, mas está difícil", finalizou dona Zeza, como é chamada respeitosamente pela comunidade.
DICO
Josilene Santos, é a nossa querida Dico uma das pioneiras da formação das Baianas do Pontal. Ela a exemplo de Zeza, continuam firme no pensamento de fazerem de tudo para que o grupo não acabe definitivamente.
" Pelo que eu estou vendo, o que vai acontecer é isso. As meninas de antes e idosas como eu, fizemos o que estava ao nosso alcance para manter viva essa chama que é As Baianas do Pontal. As mais novas não querem seguir a tradição e não temos nenhum apoio do grupo, por que não acontece com os grupos de fora. Precisamos de apoio" desabafou Dico