02/03/2021 às 10h13min - Atualizada em 02/03/2021 às 10h13min

População maceioense resiste ao uso da máscara

Alegações vão desde o esquecimento até o mal estar, mas todos afirmam defender uso do equipamento contra o novo coronavírus.

Por Redação
↑ Mesmo com casos de Covid-19 em alta, muitas pessoas ainda resistem ao distanciamento e uso da máscara (Foto: Edilson Omena).

Ao circular pelas ruas de Maceió, é comum se deparar com pessoas sem máscara em vários locais públicos com grande circulação de pessoas. Ou até mesmo com máscara, mas posicionada de forma inadequada no queixo, na orelha, na mão, ou com o nariz de fora. As aglomerações também não estão tão raras.

Apesar de ser uma cena comum, não é fácil encontrar alguém declaradamente contrário. Uma mulher que não quis ser identificada explicou que usa sim a máscara, mas às vezes tira para fumar. No momento que foi abordada ela não estava com nenhum cigarro. Outro senhor, que também preferiu não ter imagens registradas, concordou que o correto é usar, mas se disse teimoso justificando a imprudência.

Vadeir dos Santos estava no Centro de Maceió sem a máscara. Segundo ele, o uso é necessário, mas ele não faz. “Eu tenho problema. Se usar, sufoca. Uma vez eu já desmaiei por causa disso”. Ao ser perguntado se não tem medo de ser contaminado ele responde tranquilo que “graças a Deus, não”.

De acordo com a presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, Vânia Pires, não é uma boa justificativa. “Não vejo praticamente nenhuma situação que possa contraindicar o uso de máscara, a não ser que uma pessoa esteja com dificuldade respiratória, e essa pessoa não deveria estar circulando nos ambientes”.

Ainda no Centro de Maceió, nossa reportagem encontrou Manoel Galvão com sua família. Todos sem máscara. Manoel garantiu que ele e sua família são totalmente a favor. “Essencial, necessário. Essa enfermidade não está de brincadeira. Estou sem máscara porque estou indo fazer alongamento, vou correr, não vou correr de máscara. Mas eu não saio da minha casa sem máscara. Foi uma falha, mas aconselho que todos ao levantar da cama use o álcool em gel e a máscara”.

De acordo com a psicóloga Anne Rodrigues Teles, existem várias necessidades individuais que influenciam no comportamento coletivo. “E o não uso da máscara mostra várias características do indivíduo diante de uma situação que afeta o coletivo”.

Fatores como a baixa aplicabilidade da lei e a postura do presidente da República, que promove aglomerações e condena as medidas dos gestores estaduais e municipais, podem ter forte influência sobre isso.

“Como a lei não tem aplicabilidade para que a população se posicione pelo coletivo, ações acabam sendo individuais. Pessoas querem ter autonomia diante das coisas, inclusive de reforçar que tem poder. ‘Se posso transgredir a lei, vou transgredir. Se posso dizer que o que eu penso é verdade, neste exato momento eu faço isso. E eu faço como? Não usando a máscara’”.

Ela explica que há necessidade de transgredir, e a postura de Bolsonaro reforça o pensamento. “Com o líder máximo da nação fazendo isso, se ele que tá no topo faz isso, porque eu não posso fazer. O que eu penso é correto, e eu vou fazer o que eu quero porque tenho poder para mandar nesta situação. Tudo é uma questão voltada para o eu”.

“Brasileiro não aprendeu o dever de casa, comportamento até piorou”

Apesar de não apresentar os piores número do país, Alagoas já acende o sinal de alerta. “Pode dizer que o estado de Alagoas ainda não chegou ao pico da segunda onda. Isso pode acontecer nas próximas semanas, tendo em vista que outros estados já se encontram nesta situação. Hoje a taxa de ocupação de leitos de UTI, principalmente nos hospitais privados, chegam a situações gritantes. Uma vez que temos hoje pessoas sem os cuidados orientados e a variante circulando entre nós, é possível que chegue a esse patamar”, informou a infectologista Vânia Pires.

A profissional da saúde lamenta o descuido da população, mesmo com 1 ano de pandemia. “Infelizmente a população não aprendeu o dever de casa, o comportamento até piorou, porque no começo as pessoas tinham mais medo, agora elas acham que a doença não é tão grave”.

Ela critica em especial o comportamento irresponsável dos mais jovens. “Eu vejo uma piora no comportamento, principalmente entre os jovens, que inadvertidamente acham que é doença de idoso. Eles esquecem que nós estamos diante de uma pandemia que não está controlada e está, inclusive, com variantes com maior poder de transmissibilidade atingindo mais os jovens e levando à UTI. Se observarem os dados, vão ver pessoas com 40 anos morrendo de Covid, sem comorbidade”.

Em manifesto assinado por 45 entidades médicas e divulgado no último domingo, profissionais da saúde apelam para o uso imprescindível da máscara. “Máscaras são instrumentos eficazes para a redução da transmissão de vírus respiratórios e são preconizadas na atual pandemia para uso, não apenas por profissionais da saúde no cuidado de indivíduos com suspeita ou diagnóstico de Covid-19, mas por todos. O uso correto da máscara é a ação pessoal com efeito coletivo fundamental para diminuir a circulação do vírus da Covid-19 que assola o país neste momento”.
No mesmo documento, o alerta traz dados nacionais atualizados. “No dia 25 de fevereiro de 2021 atingimos a marca de mais de 250 mil mortes por Covid-19 no Brasil, sendo 1.582 mortes em um único dia, uma morte por minuto. Os hospitais da rede pública e privada de muitos municípios do Brasil encontram-se com a ocupação quase máxima, podendo levar ao risco a vida daqueles que necessitem de assistência médica hospitalar por qualquer doença. A vacinação ainda caminha em passos lentos e de forma descontínua retardando seus efeitos benéficos.

Em Alagoas, os Ministérios Públicos do Estado de Alagoas (MP/AL) e Federal (MPF) expediram, de forma conjunta, ofícios aos chefes dos Poderes Executivos de Alagoas e de Maceió, no último sábado (27), manifestando preocupação com o crescimento do contágio e mortes pelo novo coronavírus, assim como com o aumento da taxa de ocupação hospitalar identificada na última semana. Com base nesses dados mais recentes, as duas instituições cobraram do Estado e da Prefeitura de Maceió, que terão 72 horas para responder, medidas que intensifiquem o combate ao avanço da pandemia, além de questionarem se haverá recrudescimento do nível de flexibilização do Plano Estadual de Distanciamento Social.


Fonte: Tribuna Independente


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